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Foto do escritorConVivência Assessoria

Vamos colocar a literatura na prática?

No texto anterior, refletimos sobre a inadequada escolarização da literatura nas

escolas e como a falta de formação dos educadores sobre a literatura pode

empobrecer a formação de leitores.



Criança lendo na grama


Agora, vamos pensar em propostas!


Quando falamos e pensamos em literatura na escola temos de considerar uma diversidade de propostas que a envolvem enquanto linguagem, e isso também inclui os espaços de leitura dentro e fora das escolas. Iniciando pelos espaços temos as bibliotecas, que podem ser locais específicos na escola, itinerantes ou de sala. Ter um espaço intencional para leitura contribuirá para motivar as crianças no contato com a literatura.


As bibliotecas como espaços focados nas crianças, surgem do conceito de animação, um conceito dos movimentos sociais da década de 60, na França, que lutavam pela extensão da cultura e enriquecimento do tempo livre dos cidadãos, por meio de programas que incentivavam a participação e as relações comunitárias com a intenção de chegar, ao maior número de pessoas, o melhor do pensamento humano.


Considerando o conceito das animações de leitura, há uma série de propostas lúdicas e criativas que podem motivar as crianças no processo de leitura do literário. Essas propostas podem fazer parte de um ateliê de animação. Sobre isso, ao pensar nas crianças, Christian Poslaniec (2006) defende que as crianças não começam a ler porque esperam encontrar uma fonte de prazer; começam a ler porque ler é necessário para obter o prazer ligado ao jogo que o ateliê de animação

definiu.


Seguindo com a literatura como linguagem, é possível desenvolver um enfoque de conversação sobre a mesma. A cada leitura, em roda, um momento de conversar sobre o que acabamos de ler. Essa é a proposta do Dime (diga-me em português), de Aidan Chambers (2007), uma maneira de dar forma aos pensamentos e emoções provocados pela leitura e pelos significados que damos.

Nesse enfoque, a escuta é primordial e uma questão central é evitar a pergunta “por quê?”, pois é considerada como uma questão inibidora da conversação.



Crianças em círculo

Chambers propõe a construção de um processo comunicativo recreativo, a partir de um ambiente onde os leitores sintam-se seguros e importantes. O ponto de partida é compartilhar o que cada um sabe ou sente em relação ao texto lido. Para dar continuidade, o professor pode se utilizar de uma série de perguntas básicas, gerais e especiais, e jogos que também ajudam no desenvolvimento de habilidades leitoras e de compreensão, como os propostos por Christian Poslaniec, em Incentivar o prazer de ler, e também por Renata Junqueira de Souza e Ana Maria Martins da Costa Santos, em Andersen e as estratégias de leitura.


Na prática, para iniciarmos o planejamento de um projeto de literatura com as crianças, podemos utilizar a sequência básica ou expandida proposta por Rildo Cosson (2020), referência quando o assunto é letramento literário. A sequência básica constitui-se de quatro passos: a motivação, a introdução, a leitura e a interpretação.


Na motivação, iniciamos com práticas que estabelecem laços entre o texto e o leitor: um cenário que criamos ou um objeto cuidadosamente colocado na sala de aula para chamar a atenção das crianças, podem servir de motivação para conhecer mais sobre a história que será iniciada. Por exemplo, se leremos A moça tecelã, de Marina Colassanti, imagine a agitação e a curiosidade das crianças ao verem um tear. Esse interesse é a motivação que precisamos para iniciar a leitura. Ou então, para iniciarmos as histórias a Emília, de Monteiro Lobato, o que achariam se a encontrassem na sala de aula, em cima da mesa da professora?



Tear


Na introdução, temos a apresentação da obra em si, com leitura da capa, da sinopse, apresentação do autor, do ilustrador. Após esse momento, iniciamos a leitura, que também envolve estratégias de acompanhamento, como diários de bordo ou de leitura e lapbooks. A leitura é um processo que precisa ser degustado.

Não se apresse em ler a história de uma vez só. Estabeleça paradas para discussão, reflexão e registros que sejam motivadores para as crianças. Nesse sentido, os lapbooks são estratégias muito interessantes, pois criam uma interatividade do leitor com a obra lida.



Lapbook

Foto: Educlub



Por último, a interpretação, momento em que o texto mostra a sua força, tanto no aspecto interior, naquilo que afeta cada leitor, quanto no exterior, que se traduz em propostas mais expressivas e públicas como uma dramatização ou outras formas de materialização estética da obra lida.


As propostas para desenvolver a leitura, motivar o leitor, entrelaçam-se. É importante conhecê-las para utilizarmos adequadamente nas escolas, pois além de queremos formar bons leitores, também desejamos que a leitura crie um repertório que contribua para a escrita.


Tendo a literatura o poder de ajudar a compreender a si mesmo e ao mundo, a utilização dos livros de literatura no processo escolar pode desenvolver leitores competentes na medida em que o próprio professor tiver conhecimento sobre a teoria literária e um repertório capaz de motivar a criança nas relações entre textos e no uso de propostas que desenvolvam um leitor sensível e envolvido. A partir desse referencial é possível encaminhar a leitura do literário desde a Educação Infantil, de forma independente dos manuais dos livros didáticos, sem a didatização inadequada, descontextualizada, criando um planejamento específico para tal e considerando interlocutores reais. Com isso, é possível formar leitores que apreciem a arte no literário, que leiam nas entrelinhas, que identifiquem os gêneros e elementos de enredo, mas também sejam capazes de ler a partir de si, a reagir e a refletir sobre os efeitos da obra sobre si mesmo.



Contação de Histórias


Danielle Mari Stapassoli

Pedagoga e mestra em educação,

especialista em Currículo e Prática Educativa e

Organização do Trabalho Pedagógico.





Referências:

  • COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2020.

  • POSLANIEC, Chistian. Incentivar o prazer de ler. Actividades de leitura para jovens. Porto, Portugal: Editora Asa, 2006.

  • CHAMBERS, Aidan. Dime. Los ninõs, la lecturay la conversación. México: FCE, 2007.

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