Há escolas de Educação Infantil que dão ênfase ao preparo das #crianças para o Ensino Fundamental. Você já notou? Há outras cujo destaque são as brincadeiras! E há ainda as que
demonstram tantos cuidados com as crianças, que o foco só pode estar mesmo no cuidar. Mas, e
aí, o que é mais importante?
Responder a essa questão exige considerar que a constituição da criança como sujeito está
diretamente atrelada ao âmbito sociocultural e intrinsecamente ligada aos múltiplos e diversificados contextos sociais. Nesse sentido, não há uma única infância a ser considerada. Na
verdade, existem tantas e tão variadas infâncias quanto os contextos sociais em que se desenvolvem.
Nesta perspectiva, a criança é como um ator social que age e participa ativamente da construção social do seu próprio conhecimento.
Ela dá sentido e elabora significados para suas experiências socioculturais, em vez de simplesmente reproduzir as práticas já estabelecidas. Os conceitos de infância e criança se relacionam e se interdependem, disso decorrem as relações entre o cuidar, o brincar e o ensinar.
O cuidar
“Tchau, preguiça!
Tchau, sujeira!
Adeus cheirinho de suor!
Lava, lava, lava
Lava, lava, lava
Uma orelha, uma orelha
Outro orelha, outra orelha”
(Helio Zinskind)
Inicialmente, o conceito de cuidar faz parte essencial das instituições de ensino, pois o cuidar é sobretudo dar atenção à criança como pessoa que está em desenvolvimento, identificando e respondendo às suas necessidades. Assim, é fundamental que o profissional da educação esteja comprometido com os pequenos, sendo solidário e respeitando as singularidades de cada um.
O cuidar significa tanto acolher a criança nas questões afetivas, quanto nas biológicas.
Envolve saúde, alimentação e higiene. Sem o cuidar não há condições para o brincar e o ensinar,
pois ser cuidada e amparada em suas necessidades básicas é um direito da criança. A base do
cuidado é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano.
O brincar
“Corre cotia
Na casa da tia
Corre cipó
Na casa da vó”
(Helio Zinskind)
O conceito de brincar também vem sendo aprimorado a partir dos estudos sobre a infância.
Atualmente, o brincar é entendido como linguagem que a criança utiliza para interagir com os
outros e com o ambiente, desenvolvendo habilidades cognitivas e motoras, autonomia e
criatividade. Considerar o brincar como linguagem amplia a importância do conceito no cotidiano
da infância e da escola, muda o olhar dos educadores quanto ao seu papel diante das brincadeiras
das crianças e quanto ao planejamento desses momentos. A brincadeira, então, deixa de ser
rotulada como um simples preenchimento de vazios no dia a dia escolar e passa a fazer parte de
uma ação educativa intencional de suma importância para o desenvolvimento integral da criança.
A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) fortalece essa ideia ao destacar o brincar e as
interações como eixos estruturantes para a prática pedagógica na etapa da Educação Infantil. No
entanto, se a infância compreende o período do desenvolvimento humano até o início da
puberdade, qual o papel do brincar nas séries iniciais do Ensino Fundamental?
Analisemos algumas expressões e estudos interessantes sobre o brincar.
O brincar livre
Foto: Shutterstock
Sua infância foi na rua, no campinho perto de casa, brincando com vizinhos, subindo em árvores? Pois é, o brincar livre resgata a liberdade desses movimentos e escolhas. Na proposta do brincar livre, a criança escolhe as brincadeiras com outras crianças. É um brincar com liberdade, mas ainda assim com o olhar atento do adulto, que está lá para observar, incentivar e reorganizar o ambiente, deixando-o sempre atraente e estimulante às descobertas aos olhos das crianças. Para os neurocientistas, é o brincar livre, espontâneo, aquele que mais estimula a formação de cadeias neurais. Preparar esses momentos é eleger os ambientes em que acontecerão e os elementos ali presentes. É considerar um tempo flexível - conforme o desenvolvimento das brincadeiras em andamento - e que os interesses das crianças podem variar conforme o passar do tempo e entre elas. Após o preparar, a observação e o registro andarão juntas. A observação atenta auxiliará na inserção de elementos nos contextos das brincadeiras que poderão proporcionar saltos de
aprendizagem. Além disso, por meio de registros, a observação evidenciará os percursos formativos das crianças.
O brincar heurístico
Foto: Pixabay
Para as crianças bem pequenas, as descobertas são intensas e o #brincar também é importante. Aqui, a abordagem desenvolvida pela educadora inglesa Elinor Goldschmied apresenta uma forma diferenciada de organizar as atividades diárias oferecidas às crianças nos dois primeiros anos de vida. Segundo Elinor, no aprendizado heurístico, a criança descobre as coisas por si mesma. Nesse caso, o foco do brincar está na descoberta e também na manipulação de objetos como sementes, caixas, tapetes de borracha, novelos de lã, etc. Para o desenvolvimento dessa abordagem, também é necessário o cuidado com o ambiente, com a escolha dos materiais, com o tempo, com a observação e o registro. Aqui, o conceito de brincar adequa-se à faixa etária e considera aspectos importantes como: a quantidade de materiais e a forma como são agrupados e apresentados a cada criança; espaço suficiente para que possam movimentar-se tranquilamente; tempo da atividade; reorganização discreta dos materiais, de tempo em tempo, para que continuem convidativos à exploração; organização dos materiais pelas próprias crianças, com o auxílio das professoras, para que sejam guardados adequadamente para utilização em outro dia.
O ensinar
“Alecrim, alecrim dourado
que nasceu no campo
sem ser semeado.
Foi meu amor
que me disse assim
que a flor do campo é o alecrim.”
O #ensinar, por sua vez, é o conceito que mais se relaciona às instituições escolares. Por muito tempo esteve associado à disciplina, à transmissão de conhecimento, à repetição e à memorização.
Atualmente, devido ao contexto e aos estudos, o conceito de ensinar extrapola a escola e envolve dimensões antes apenas da esfera familiar. É comum ainda ouvirmos e lermos afirmações como: a família educa, a escola ensina. No entanto, com a delegação da família de boa parte da formação de uma criança às escolas, ensinar hoje assume um significado mais integral: escola e família educam e ensinam.
Nessa perspectiva, o conceito de educar supõe um professor que saiba orientar a criança para o seu amadurecimento emocional gradativo, com aproveitamento dos seus potenciais, sabendo conviver e lidar com as diversidades. Supõe um processo que inclui as dimensões do cuidar e do brincar, sem que haja fragmentações de ações no cotidiano escolar.
A relação cuidar, brincar e ensinar
Cuidar, brincar e ensinar, são conceitos indissociáveis no processo ensino-aprendizagem.
Assim sendo, é importante que a escola capacite, continuamente, seus educadores para o cuidar das crianças, na totalidade de suas necessidades, mas também para considerar o brincar como linguagem primordial da fase e, por isso, fundamental no cotidiano escolar. O brincar deve fazer
parte intencional do planejamento dos educadores, da projeção dos espaços e dos tempos da
escola, com metodologias condizentes com a realidade das crianças.
Danielle Mari Stapassoli
Pedagoga e assessora pedagógica,
especialista em “Currículo e Prática Educativa” e
“Organização do Trabalho Pedagógico”.
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